A entrevista rolava como as demais, a moça parecia cansada ao falar da sua vida. Suas palavras eram como âncoras que prendiam o relato frustrante. Seus olhos marejaram vez por outra. E quando era questionada pelo tempo presente ela tentava alcançar um novo lugar, mas tudo parecia sem resultado.
Nada mudava nas frases, questionamentos incessantes e o mesmo lugar. Se você ao ler essa cena triste pensa que ela estava acomodada, que nada. Essa mulher já tentou vários túneis para chegar na porta tão sonhada. Infelizmente ela se esforçava ao limite dela mesma ao estar mais uma vez diante da porta que não abria.
Hoje ela está completamente morta. Ela caminha a passos lentos e com cautela. Não deseja mais correr pelos túneis, ela não deseja se esforçar como antes. O looping a fez perder a esperança pela abertura da porta. E ela se vê ali vivendo o replay ao assistir sua história até hoje.
Ninguém mais acredita que ela vai chegar ao lugar dela. Nem seus queridos mais próximos. Minha entrevistada está sobrevivendo e lutando não com suas forças, mas com a sobrevivência de acordar e fazer o ordinário para então chegar na porta. Tento fazer perguntas, só que ela não sabe como formular a resposta. São questões muito complexas....de uma profundidade além do papel e caneta.
Como ela vai sair do looping? Ao olhar para sua rotina comum ela acorda e faz o necessário. Ela já correu demais, fez tudo que disseram para ela alcançar a porta. E o resultado ainda não chegou. Ela continua aguardando bem distante a porta e em certos instantes ela procura esquecer a porta que hoje (tempo condicional) parece não existir.
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